quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Uma Igreja que reflete a importância da família

            De volta ao Rio de Janeiro, depois de participar da 3ª Assembleia Extraordinária do Sínodo dos Bispos, o Cardeal Orani João Tempesta retomou os trabalhos pastorais na arquidiocese e recomeçou sua jornada de visitas às paróquias, reuniões e convivência com os padres e leigos. No Sínodo, realizado entre os dias 4 e 19 de outubro, no Vaticano, foi refletida a questão da beleza e os valores da família cristã.
            Partilhando um pouco da experiência vivida e do compromisso missionário que a Igreja abraçou com a conclusão da Assembleia, Dom Orani falou ao Sistema de Comunicação da Arquidiocese do Rio sobre os principais aspectos abordados e debatidos durante a assembleia.

Representantes de todo o mundo
            Ao todo, participaram da assembleia 253 pessoas, provenientes de todas as regiões do mundo. Representando o Brasil, além de D. Orani, participaram o arcebispo de São Paulo Cardeal Odilo Pedro Scherer; o arcebispo de Aparecida, Dom Raymundo Damasceno Assis, um dos presidentes-delegados do Sínodo; o Cardeal João Braz de Aviz, prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada; o bispo maronita, de Nossa Senhora do Líbano, em São Paulo, Dom Edgard Amine Madi e o casal que testemunhou, Arturo e Hermelinda Zamperlini.
            “Nessa assembleia, tivemos o mundo inteiro falando, o que foi algo universal. No geral, enfrentamos muitas preocupações, como por exemplo, no continente africano onde existe a questão muito forte na cultura dos muçulmanos. Também há a questão do ecumenismo vivido pelas Igrejas separadas de Roma, que admitem o segundo casamento. São situações de testemunho, de beleza e de sofrimento. Numa região da Ásia, durante a guerra, uma mulher cristã católica foi a única que esperava o seu marido voltar, enquanto as demais já haviam se casado novamente”, frisou.

Participação da Família
            Durante os 15 dias de assembleia, foram ouvidos cerca de 260 depoimentos ligados à temática da família. O Cardeal Tempesta  explicou que mais de dez grupos se concentraram e debateram sobre tudo o que foi discutido. Ao final, foi montado um documento não-oficial, que serviu como mensagem e foi enviado para o mundo.
            “Nos encontros da assembleia, foram partilhados diversos testemunhos. O Sínodo sempre teve a preocupação de colocá-los tanto nas comissões quanto nos testemunhos. É importante envolver a família nessa grande reflexão”, disse. 

50 anos do Sínodo dos Bispos
            No próximo ano, a Igreja celebrará 50 anos em que o Papa Paulo VI, hoje beato, instituiu o Sínodo dos Bispos, como uma espécie de continuação do Concílio Vaticano II, que de tempos em tempos discute assuntos importantes da Igreja.
            Segundo Dom Orani, o Papa Francisco convocou o Sínodo sobre a Família em comemoração ao jubileu de ouro. E o organizou em etapas:
            “A primeira etapa foi o Consistório em fevereiro deste ano, quando o Papa consultou os cardeais sobre o tema e a questão da família e do matrimônio. Depois disso, mandou para todos o chamado lineamento para poder, justamente, discutir assuntos que percorrem o mundo inteiro e perguntas concentradas nas conferências episcopais”.
            Todo material colhido nas duas primeiras etapas foi utilizado como instrumento de trabalho para a terceira assembleia, que é justamente os desafios pastorais sobre a família no contexto da evangelização.

Preparando corações
            Até outubro de 2015 a Igreja se prepara para o 14º Sínodo Ordinário dos Bispos, que também será realizado no Vaticano. Seguindo o tema da vocação e missão da família no mundo contemporâneo, o Papa Francisco prepara um lineamento com perguntas a serem mandadas para fiéis de todos os recantos do globo.
            Dom Orani explicou que todo material deve retornar ao Vaticano para que sejam traçadas linhas de trabalho para o próximo Sínodo, que será realizado durante três semanas.
            “Para esse Sínodo será diferente a questão da convocação. Por exemplo, nesta assembleia extraordinária foram chamados presidentes das conferências episcopais. Para o Sínodo Ordinário, na verdade se elege na conferência episcopal os que vão ter direito a serem representantes daquele país. No Brasil, serão quatro vagas, esclareceu.
            E ainda acrescentou:
            “O trajeto então é de discussão e conversa. Enquanto isso, o Papa tem criado comissões. Uma delas é para aprofundar questões de como agilizar mais as discussões nos tribunais eclesiásticos sobre a nulidade matrimonial. Também se sugeriu um estudo sobre a questão da Eucaristia, fora de tudo que foi debatido no Sínodo. Enfim, a grande preocupação dos cardeais, bispos, casais, leigos e, principalmente, do Papa, é de que a Igreja possa repropor o compromisso definitivo de o mundo ver a importância da família e também do encontro aos feridos pelo caminho. O Papa deixou bem claro que a preocupação Del não é deixar ferida, mas sim, curá-las”.

Desafios e Evangelização
            No penúltimo dia da Assembleia Extraordinária, 18 de outubro, foi divulgada uma mensagem com o tema “Os desafios pastorais da família no contexto da evangelização”.
            No texto, os padres sinodais recordam os desafios enfrentados pela família na atualidade, como a fidelidade no amor conjugal, o enfraquecimento da fé e dos valores, o individualismo, o empobrecimento das relações, o estresse, as dificuldades econômicas. Lembram, também, das famílias pobres e refugiadas “atingidas pela brutalidade das guerras e da opressão”.
            Ao mesmo tempo, recordam que “o amor do homem e da mulher” ensina “que cada um dos dois tem necessidade do outro para ser si mesmo, mesmo permanecendo diferente ao outro na sua identidade, que se abre e se revela no dom mútuo”.
            “Refletimos que existe de um lado um mundo que se modifica, onde as pessoas não têm compromisso com nada e com ninguém. Do outro lado, vem a Igreja com uma nova cultura e realidade em relação a essa mudança. Estamos aprendendo a lidar com novas situações de pessoas e que estão voltando a participar da Igreja”, frisou o cardeal.

Fonte: Jornal Testemunho de Fé